O rolê que você precisa fazer em SP: a rua Dom José de Barros e seus bares
Desde maio deste ano, quando comecei a trabalhar no Centro Cultural Olido, a rua Dom José de Barros entrou no meu cotidiano. Essa rua já me encantava pelo histórico, um lugar onde o hip hop nasceu e o reggae criou raízes ao longo dos últimos 30 anos.
Nos início dos anos 1980, a esquina da rua 24 de Maio com a Dom José começou a ser frequentada por uma galera que buscava no calçadão de pedras portuguesas um palco para dançar. Ali, dançarinos de break, DJs e pixadores começaram a se encontrar todos os dias, criando a semente da cultura urbana regada no molho do hip hop.
A Dom José e seu entorno começaram a virar palco para uma turma que se vestia diferente do padrão da época, tinha suas gírias próprias, levava seus radiões (boomboxes) a tiracolo e dançava muito. Entre as figuras locais, o dançarino pernambucano Nelson Triunfo e sua crew Funk Cia começaram a mandar no pedaço. A fama correu à boca pequena e em 1984 lá estavam Nelson e seus parças da dança fazendo a tal coreografia de "robozinho" na abertura da novela Partido Alto, da Globo.
Nelsão foi uma das figuras que eu comecei a ver quase que diariamente. Com o começo das atividades de DJs e festas na Olido, ele virou figura frequente na nossa pista de dança (uma honra). Comecei a desbravar a Dom José nos finais de tarde e perceber a maravilhosa diversidade de seus frequentadores.
Em frente à Void, misto de loja e bar que abriu filial na Dom José em dezembro de 2018, a galera se organiza em grupinhos nos finais de tarde e usa caixas de fruta posicionadas na vertical como mesinha para colocar a cerveja. Ali o fervo atrai uma galera de visual que vai do "tropical de pochete", com shorts curtinho e camisa florida (quem nunca viu o "Didi da Void", por favor, clique aqui) até looks imponentes em que o afrofuturismo dá o tom. Não é raro ver verdadeiros paredões de turmas que chegam montadíssimas para tomar a cerveja diária no final de tarde em frente à Void. O mais legal do bar é que a programação é intensa aos finais de tarde, quando um line-up de DJs sempre interessante começa a tocar no Quartinho, uma espécie de laje montada na parte superior da loja. Mas o funcionamento da Void começa bem cedo, com o almoço no bandeijão, que custa R$ 19,90 e tem opções vegetarianas todos os dias.
Falando em comida, na mesma galeria onde está a Void funciona o delicioso Subte, um vegano onde é possível almoçar enquanto se escuta algum dos vinis da ótima coleção do proprietário da casa, o Paulo. Para quem quiser conhecer a Dom José, a dica é vir cedo e pegar o almoço por lá.
Do lado da Void, o Churrasco Central serve seus espetinhos e drinks gostosos e recebe semanalmente a galera do pixo, que se reúne por ali e, enquanto toma cerveja, vai rabiscando suas tags em pedaços de papel e guardanapos.
Lá no Central é possível experimentar o drink Pai Veio, uma homenagem a uma das lendas da rua.
Pai Veio é um faz-tudo que tem um escritório que fica logo em frente do Central, no número 277 da Dom José. Ele é responsável por boa parte das pequenas obras da rua e, na fachada de sua loja, tem uma foto de Bezerra da Silva e vários símbolos da folha da maconha. Não poderia existir um serralheiro, eletricista, pedreiro e encanador que fosse mais a cara da Dom José de Barros do que o Pai Veio.
Um pouco mais adiante, ainda no mesmo quarteirão, inaugurou em outubro o VGLNT, ou Vigilante, um bar com cara de clubinho com uma programação que reúne festas e DJs do underground, reggae e até de música brasileira. E dezembro o espaço vai receber Bandida Coletivo, Chernobyl, Vibe e Versality, entre outros núcleos. Para quem viveu intensamente a noite de São Paulo no final dos anos 90 para o início dos anos 2000, talvez o novo point da Dom José vá lembrar a Torre do Dr. Zero, ou ainda o porão/pista de dança do primeiro Susi in Transe.
Fato é que a programação está supercaprichada, os drinks são bons e tem um sofá na laje com uma vista panorâmica da rua, além do bom papo dos proprietários, o DJ e louco por sintetizadores Roger Multiuse e o fotógrafo e videomaker Lucas Janarelli.
Se o seu rolê é black music de raiz, o seu compromisso com a Dom José começa no final da tarde, no happy hour do Rei do Prato Feito. Durante o dia, o lugar é um bar e lanches como tantos outros do centro. Quando a noite cai, ele se transforma em bailão. Às quintas, DJs mandam ver no samba-rock, e o espaço na frente do bar fica pequeno para casais que se aventuram a dançar agarradinho. Às sextas o som se volta para os bailes black dos anos 70 e 80, e a turma capricha nos passinhos ensaiados, frequentemente liderados pela maior entidade da rua, Nelsão Triunfo.
Mais para o final da rua, a Dom José ainda tem vários bares na calçada, onde rola uma verdadeira batalha de estilos musicais – cada boteco fica responsável pelo seu – que vão de funk a pagode. Convivendo harmoniosamente com tudo isso está o belíssimo Sesc 24 de Maio, com seu prédio imponente, de programação idem, também conhecido por ter a cantina com melhor custo-benefício para quem trabalha ou está passeando pela região.
SESC 24
R. 24 de Maio, 109
Entrada também pela Dom José de Barros
VGLNT
Cabine Club no Vglnt
Sábado, 16 de novembro, a partir das 20h
Line-up: Ana Flavia _______ Residente
João Nogueira_______ Master Plano
Cecilia Lindgren________ LindaGreen
Andrea Gram____________ Referência
rogermultiuse____________ VGLNT
Quanto: R$ 15
Rua Dom José de Barros, 253
VOID CENTRO
Talaricas Queer – Brota Mucilon
Sexta, 22 de novembro, a partir das 18h
Line-up:
+ DJ LINO
+ DJ BASSAN
+ ERIC OLIVEIRA
+ TALARICAS QUEER
Rua Dom José de Barros, 297
Quanto: grátis
CHURRASCO CENTRAL
Rua Dom José de Barros, 277
REI DO PRATO FEITO
Rua Dom José de Barros, 163
CENTRO CULTURAL OLIDO/GALERIA DO DJ
Av. São João, 473, entrada pela rua Dom José de Barros
Sexta, 15 de novembro, 18h às 21h – Happy Hour com a festa Solta o Bass – grátis
Sábado, 16 de novembro, 20h – Show Rico Dalasam – grátis
Domingo, 17 de novembro, Baile em Chernobyl, 16h às 21h – grátis
SUBTE VEGAN
Rua Dom José de Barros, 301, Mezanino, loja 7
(11) 3337-7312
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