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Claudia Assef

Por que gastar dinheiro com a Virada Cultural faz todo sentido

Claudia Assef

21/05/2019 19h10

Aconteceu no último final de semana a 15a edição da Virada Cultural de São Paulo. Reuniu mais 5 milhões de pessoas (2 milhões a mais que no ano passado) e foi a maior virada já realizada na cidade. Os artistas mais vistos foram Anitta e Criolo (assistidos por 200 mil pessoas cada um) e Caetano Veloso (visto por 160 mil). A PM registrou 43 ocorrências.

Esses dados você já leu por aí, mas queria ir além de dados mensuráveis e falar da importância de um evento como esse nesse momento no Brasil, quando a Cultura perdeu até seu ministério e os artistas ganharam fama de usurpadores de leis de incentivo. A começar pela fala oficial sobre o evento, de que se trata de um evento pensando como "a virada da diversidade", segundo o prefeito Bruno Covas, até o conteúdo das atrações (foram 1.200 no total), a Virada de 2019 foi a mais importante, politicamente falando, até hoje. E vou listar alguns fatores que provam isso.

DIVERSIDADE 

A curadoria da Virada, feita a muitas mãos, incluiu artistas dos mais diferentes backgrounds, gêneros, raças. Do sertanejo Lucas Lucco à Anitta, da diva drag Pabllo Vitar até Caetano, de Jane Duboc até Emicida, o leque foi amplo e agregador.

ECONOMIA CRIATIVA 

Segundo dados da SP Turis, houve crescimento do gasto médio de 60% na Virada 2019. Dos R$ 50 gastos em 2017, passou-se para R$ 81 este ano. Isso sem falar no número de visitantes de fora da cidade, que dobrou de 2017 para 2019 (saltaram de 11,4% para 23,7%).

RESGATE DA AUTO-ESTIMA 

Não precisa ser um cientista político para entender que São Paulo não esteve em sua melhor fase nos últimos anos. Convidar as pessoas para se divertir nas ruas, sejam do centro ou nas periferias, com atrações de peso, de graça, ajuda a resgatar aquele sentimento de pertencimento, de cidadania e de orgulho da cidade.

FESTAS PARA TODOS 

Foram muitos os palcos com festas de música eletrônica espalhados pela cidade. Apesar de ter sua própria virada, o evento de coletivos SP Na Rua, a Virada Cultural acertou em manter em alta a sua programação recheada de DJs e produtores que fazem da noite da cidade uma das mais interessantes do mundo.

SP 24 HORAS 

Uma das coisas mais legais é lembrar que a cidade de São Paulo continua se saindo bem quando entra no modo 24 horas party people. Durante a Virada, vários restaurantes e bares se animaram a virar a noite também, lembrando um pouco a cidade que onde já foi possível fazer uma bela refeição às quatro da manhã.

Essas são percepções minhas, de quem acompanhou tudo à distância, via instagram, já que estava no MecaInhotim, onde fui tocar. Mas acho que este post do meu amigo Camilo Rocha, DJ e jornalista do Nexo, resume bem o clima pra que estava lá.

Vi pessoas e mais pessoas. Elas são o maior espetáculo da Virada. Pessoas de todo tipo preenchendo o espaço público, gargalhando, fervendo, abraçando, aplaudindo, virando garrafa no gargalo, sendo quem queriam ser, exercendo o seu direito de usar a cidade. À noite, de madrugada, por todo o dia seguinte.

Numa cidade entregue à logica da grade e da guarita, faz bem demais ver esse mundaréu de gente indo e voltando, sem filtro, sem barreiras. Com poucas ocorrências, considerando o público de 4,6 milhões de pessoas, o evento demonstrou como a cultura pode influenciar positivamente uma cidade, deixando-a mais humana, democrática e segura. Ainda que só por 24 horas.

Essa é a grande vitória da Virada Cultural.

 

 

Sobre a autora

Claudia Assef é uma das mais respeitadas especialistas em música do país. É publisher do site “Music Non Stop” e ao lado de Monique Dardenne fundou o “Women's Music Event”, plataforma de conteúdo e eventos que visa aumentar o protagonismo da mulher na indústria da música.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre descobertas musicais, novidades, velharias revisitadas, tendências e o que está rolando na música urbana contemporânea, seja na noite ou nas plataformas de streaming mais próximas de você.

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