Exposição em SP traz obras de arte em que o tema central é o disco de vinil
O vinil exerce uma papel fundamental na música. Quer você seja um aficcionado pelo formato ou não, certamente já foi impactado pelo universo das bolachas de petróleo. Com a morte decretada do formato CD, o vinil não para de bater recordes neste seu retorno triunfal, segurando a relevância da venda de música no formato físico, à frente do digital (downloads), só perdendo para o furacão que é o mercado de streaming (dados da Federação Internacional da Indústria Fonográfica divulgados esta semana).
O fetiche do vinil se desdobra além da música e um belo exemplo disso é a exposição Lado B: O disco de vinil na arte contemporânea brasileira, que estreou na última sexta (26) no Sesc Belenzinho e fica em cartaz até dia 30 de junho com entrada gratuita.
Com curadoria de Chico Dub, carioca que apronta há dez anos o ótimo e atrevido festival Novas Frequências, e coordenação geral de Luiza Mello, a exposição coletiva reúne 61 obras de mais de 30 artistas visuais e sonoros do país, mostrando toda ampla gama de usos do disco de vinil enquanto material estético de intervenção sonora, física, conceitual, ritualística e poética.
"Lado B realiza um importante papel na aproximação da música com as artes contemporâneas. Convidar o visitante do museu para, além dos olhos, usar os ouvidos tem se tornado uma constante. O som, em si mesmo, devido a avanços na tecnologia e, também, pelo desejo de ultrapassar os limites da experimentação, passou a ser reconhecido e exibido como arte", diz Chico Dub.
O visitante encontra na mostra instalações sonoras e interativas, pinturas, esculturas, discos conceituais, vídeos, fotografias, manipulações sônicas e objetos-instrumentos. As obras de Thomas Jeferson e Xico Chaves, por exemplo, criticam a obsolescência dos bens de consumo duráveis.
A exposição também apresenta comentários políticos (presentes nos trabalhos de Fabio Morais, Pontogor, Romy Pocztaruk e Hugo Frasa), gambiarras tecnológicas (nas vitrolas preparadas pela dupla O Grivo e na foto de Cao Guimarães), reflexões sobre a morte (na instalação de Gustavo Torres), o orgulho da propriedade e o disco como retrato da individualidade (na obra de Felipe Barbosa). Já o artista plástico Cildo Meireles utiliza osciladores de frequência para esculpir topologias sonoras em forma de fita de Moebius e espiral no trabalho Mebs/Caraxia (1970-1971). Já Sal Sem Carne (1975) discute as relações entre as culturas indígena e portuguesa, a partir de uma espécie de radionovela.
Ainda nesse contexto, a obra Disco contendo o som de sua própria gravação (2014), de Gustavo Torres, apresenta apenas os registros sonoros presentes na produção do próprio vinil, sem interferências externas. E em Record: The Space Between (1971), Antonio Dias grava dois sons contínuos e intermitentes: um despertador e a respiração humana. Conhecido por trabalhar com mídias sonoras variadas, o coletivo Chelpa Ferro marca presença com um trabalho sonoro em vinil e com uma colagem escultórica de fitas cassete.
Além das obras, integram a exposição a Oficina de Sampleamento Radical, um workshop e performance coletiva organizada por Alexandre Fenerich, nos dias 3 e 4 de maio; Chelpa Ferro apresenta um set inédito na sua carreira, utilizando como matéria-prima os discos favoritos de sua coleção, no dia 11 de maio; Alguns discos desta exposição sobrepostos e justapostos, de Gustavo Torres, se utiliza de diversos "discos de artista" presentes na exposição, no dia 8 de junho; e Narva 1 ao Vivo, de André Damião, no encerramento, no dia 30 de junho.
LADO B: O DISCO DE VINIL NA ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA
De terça a sábado, das 10 às 21h; domingos e feriados, das 10h às 19h30 (até 30 de junho)
Grátis
SESC BELENZINHO
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000.
Belenzinho – São Paulo (SP)
Telefone: (11) 2076-9700
Curadoria: Chico Dub
Coordenação Geral: Luiza Mello
Artistas e coletivos convidados: Alan Adi, André Damião, Antonio Dias, Barrão, Bernardo Damasceno, Brígida Baltar, Cao Guimarães, Chelpa Ferro (Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler), Chiara Banfi, Cildo Meireles, Daniel Frota, Dora Longo Bahia, Fabio Morais, Felipe Barbosa, Fernando Velázquez, Gustavo Torres, Hugo Frasa, Letícia Ramos, Marepe, Marssares, O Grivo (Nelson Soares e Marcos Moreira), Paulo Bruscky, Pontogor, Rádio Lixo (Juliana Frontin, Joaquim Pedro dos Santos, Cainã Bomilcar e Abel Duarte), Rafael Adorján, Rivane Neuenschwander, Romy Pocztaruk, Thiago Salas, Thomas Jeferson, Vivian Caccuri, Wagner Malta Tavares, Walter Smetak, Waltercio Caldas e Xico Chaves
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