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Claudia Assef

Irmãs bolivianas costureiras radicadas em SP expressam sua luta com hip hop

Claudia Assef

11/02/2019 22h04



Uma das coisas mais legais quando estamos, eu e minha sócia, Monique Dardenne, metidas na curadoria do Women's Music Event, tanto da conferência (que acontece em março) quanto da premiação (em dezembro), é descobrir artistas novas. Este ano, para a conferência, que acontece entre os dias 22 e 24 de março em São Paulo, nos pusemos a pensar sobre o som das refugiadas, um tema que há um bom tempo nos atrai, sobretudo nesse momento hello-darkness-my-old-friend que estamos atravessando. Afinal, o WME também serve para mostrar o valor de profissionais da música que não têm o merecido crédito.

Foi durante essa busca pelo som das refugiadas que escolheram o Brasil para escapar de conflitos ou simplesmente da miséria que conheci o grupo Santa Mala. Através da indicação de um velho parceiro, Daniel Gonzalez, um ativista da música independente de longa data, conheci a história desse grupo de hip hop formado por três irmãs de La Paz, Bolívia, que vieram tentar uma vida melhor em São Paulo e por aqui montaram uma pequena confecção de roupas no bairro do Belém, Zona Leste da cidade.

Elas deram os primeiros passos no rap entre 2004 e 2008, como integrantes grupo Hermandad Feminina, uma referência do rap na Bolívia. Quando li sobre elas louca pra ouvir o som. Confesso que fiquei positivamente surpresa quando vi o videoclipe que o Daniel me mandou. Amei a fúria nas letras, o sample que foi usado, e a crueza do vídeo.

Santa Mala – Raza

Era tarde da noite quando vi o clipe. Coloquei o som no talo e fiquei sentindo a força que vazava por aquelas rimas. Virei fã. Quis saber mais sobre as meninas. Achei uma matéria de 2016 feita pelo Canal Brasil. Na entrevista, uma das irmãs conta que chegou em São Paulo trazida por uma quase amiga de sua mãe, e que sonhava em ter chances de melhorar a vida. Chegando aqui encontrou trabalho praticamente escravo numa confecção, onde a "patroa" cobrava dela pelo prato de comida numa jornada que começava às seis da manhã e não tinha hora para terminar.

Agora munidas de CPF brasileiro, as três irmãs são empreendedoras, que se dividem entre o design das roupas, a costura e a administração da confecção. O grupo Santa Mala atualmente faz parte do coletivo Latam Esquad, que reúne artistas musicais latino-americanos radicados em São Paulo. A trajetória do trio será contada no documentário Visto Permanente, dirigido por Cristina Branco, e sem data de lançamento definida.

Além disso, elas irão participar de um dos painéis do WME 2019, a data eu confirmo aqui assim que a tivermos. Se essa história também te deu um tiquinho de esperança por dias melhores, deixa um coração aí nos comentários.

<3

Sobre a autora

Claudia Assef é uma das mais respeitadas especialistas em música do país. É publisher do site “Music Non Stop” e ao lado de Monique Dardenne fundou o “Women's Music Event”, plataforma de conteúdo e eventos que visa aumentar o protagonismo da mulher na indústria da música.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre descobertas musicais, novidades, velharias revisitadas, tendências e o que está rolando na música urbana contemporânea, seja na noite ou nas plataformas de streaming mais próximas de você.

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