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Claudia Assef

Festivais, conferências e listas ainda se "esquecem" de incluir mulheres

Claudia Assef

30/01/2019 14h39

Navegando outro dia pelas timelines alheias encontrei um post sobre uma conferência de música eletrônica em BH. Claro que fiquei curiosa e cliquei pra ver o que tinha de interessante. No link dizia que "no próximo dia 31 de janeiro, o Expominas será palco da primeira edição de um encontro de produtores, DJs e interessados pela música eletrônica". Nem mesmo o nome do local onde a conferência será realizada, ExpoMINAS, deu uma luz para a galera que organizou o evento, e entre todas as atrações e convidados, há apenas homens no elenco.

Não sou MESMO de ficar detonando evento alheio, por isso nem vou botar o link aqui. Sei o quanto é duro levantar patrocínio, convidar as pessoas, criar uma comunidade, divulgar. Mas, juro, não ter nenhuma mulher sequer num evento que se dispõe a falar sobre música eletrônica, esse universo tão inclusivo e moderno (só que não), onde a tolerância deveria falar mais alto (mas não fala), no qual as pessoas deveriam ser valorizadas por suas qualidades e atributos e não por seu gênero, isso é muito retrocesso.

Nada contra os meninos desta line-up, mas só homens numa conferência não parece estranho em 2019?

Daqui a alguns dias iremos anunciar a terceira edição do Women's Music Event, meu projeto criado em parceria com a Monique Dardenne, no qual visamos ampliar a visibilidade da mulher que trabalha na indústria da música. Será nossa terceira conferência, e sentimos que o mercado respondeu muito bem à nossa política de incluir homens, mulheres, trans num debate liderado pelo feminino. No primeiro ano, tivemos um público de 1.000 pessoas entre os eventos diurnos e noturnos. No segundo ano, 2018, esse número pulou para 6.000 pessoas e este ano estimamos um público de 8.000. Então ainda é preciso fazer um evento para chamar a atenção para o fato de que a mulher existe neste mercado? Sim, super! Essa conferência de BH só deixa muito CLARO que estamos muito, muito longe de sermos lembradas como seres pensantes na indústria da música (e em tantas outras), não é mesmo?

Se ainda precisa ter conferência e prêmio só para mulheres? A vida nos ensina que sim

Às vezes me sinto como aquele meme da velhinha segurando um cartaz em que se lê "Não acredito que tenho que lutar pela democracia em 2018" ou algo assim, mas é fato. Em 2019, ainda existem listas de melhores discos do ano (conforme falei aqui semana passada), festivais que contratam um número pífio de mulheres no line-up só pra não pegar mal e conferências que ignoram a existência feminina.

Daí você pode dizer que "então essa conferência de BH é tipo um WME só de homens, ué?". Não, não é. O que aconteceu com essa conferência é apenas o fato deles seguirem usando a mesma lista de contatos dos "migles" da indústria de anos atrás. Esqueceram que o tempo passou e que não vamos mais ficar caladas diante de um revival do que se praticava antigamente. Graças a projetos como o WME e tantas outras iniciativas irmãs, está pegando cada vez mais mal seguir a velha cartilha de só chamar os brothers. Mas, não tem problema, ainda dá tempo de sair dessa.

Sobre a autora

Claudia Assef é uma das mais respeitadas especialistas em música do país. É publisher do site “Music Non Stop” e ao lado de Monique Dardenne fundou o “Women's Music Event”, plataforma de conteúdo e eventos que visa aumentar o protagonismo da mulher na indústria da música.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre descobertas musicais, novidades, velharias revisitadas, tendências e o que está rolando na música urbana contemporânea, seja na noite ou nas plataformas de streaming mais próximas de você.

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