Como encaixar 1.200 festas numa noite? O drama da curadoria do SP na Rua
Claudia Assef
27/09/2019 20h25
O e-mail acima foi enviado pela minha academia e me fez lembrar o perrengue que foi o último mês com dois eventões encavalados, além das tarefas normais do meu dia a dia: Semana de Música Eletrônica de SP e SP na Rua. Sobre a Semana, já falei bastante no meu último post, então agora é a vez contar um pouco sobre o processo de curadoria do "essepê".
Um breve prólogo para quem não conhece ou nunca foi a um SP na Rua. Trata-se de uma espécie de Virada Cultural, só que menor, e construída apenas por núcleos que fazem festas em São Paulo. Como indica o nome, todos os coletivos precisam ter ou já ter tido algum envolvimento com a rua e, se forem pagos, que sejam praticados valores na faixa de R$ 10.
Ao longo de seis edições, o SP na Rua se consolidou com a melhor noite do ano para quem gosta de música eletrônica em seus mais diversos invólucros; do techno ao dub; do pop ao experimental. Foi palco de encontros lindos entre coletivos consagrados, como Mamba Negra e Capslock, mas também abriu espaço para novos núcleos, especialmente os que atuam na periferia, mostrarem seus trabalhos em palcos espalhados pelo Centro da cidade.
Neste ano de 2019, fazer um evento como o SP na Rua é mais do que uma oportunidade de curtir o rolê, é uma afirmação de que a música eletrônica é uma cultura totalmente referendada pela cidade, pela Secretaria de Cultura. Ou seja, se ainda há quem pense que o fervo é bagunça, eis aí um recado da Prefeitura de que não é bem assim, não.
Sylvia, Karen, Arturo, eu, Tessuto, Xis e Bea
Fui convidada para integrar a comissão de curadoria do evento este ano ao lado de outras pessoas que entendem muito de festa de rua: o DJ Paulo Tessuto, a produtora cultural Karen Cunha (uma das mães da ideia inicial do SP na Rua), Arturo (Batekoo), Xis e Sylvia Monasterios e Bea Cyrineo, ambas do setor de Programação da Secretaria de Cultura.
Já no segundo ano de SP na Rua foi aberto um chamamento para que os coletivos se inscrevessem e, naquele ano de 2015, foram feitas 290 inscrições. O evento ganhou status e a notícia correu entre os núcleos e em 2019 esse número pulou para mais de 1200 inscrições de coletivos buscando uma vaga no evento. Por conta de uma redução no orçamento, o evento encolheu de 24 para 16 pontos de festa, então a missão de escolher quem entraria foi tão prazerosa quanto estressante. Sem contar a responsabilidade envolvida.
Desde que começamos a nos reunir, em agosto, pensamos em trabalhar com algumas notas de corte, já que o número de inscrições era tão grande: contemplar festas que realmente acontecem ou já aconteceram na rua e escolher festas de preços acessíveis. Dada a complexidade do tetris que tínhamos pela frente, foram muitas horas fritando os neurônios até chegar à composição final. Muita festa boa ficou de fora, é verdade, e por conta disso houve um tanto de reclamações e bate-bocas pela internet. Mas, quando se está diante de tamanho dilema, às vezes é preciso cortar o braço para salvar o resto do corpo.
"O principal critério utilizado foi a priorização absoluta de coletivos que fizeram eventos de rua em 2019. Afinal, o sp na rua é um encontro de coletivos de rua. Festa de rua acontece na rua. Não adianta dizer que é coletivo de rua e passar anos sem fazer nada do tipo", escreveu Karen Cunha num post no Facebook. "Para completar e deixar tudo mais diverso incluímos também algumas festas que acontecem em lugar fechado, mas com acesso gratuito ou até 15 reais. Dando enfase as que nunca estiveram no SP na Rua ou acontecem nas periferias. Temos 2 exceções à esta regra: Uma por ter um membro na comissão curadora e um outra pela importância histórica na difusão da música eletrônica autoral e representatividade feminina".
A notícia do falecimento da DJ Sonia Abreu nos atingiu num dia em que estava marcada uma de nossas reuniões. No mesmo dia, decidimos que faríamos uma homenagem a ela, com direito a Kombi e um line-up de DJs em homenagem à sua rádio ambulante, Ondas Tropicais.
Além de alguns coletivos que ficaram de fora e demonstraram fortemente sua insatisfação nas redes, outro fato gerou polêmica: a participação de dois estabelecimentos privados como parte da programação. "Não acho absurda a adesão de 2 estabelecimentos que ficam no perímetro do evento, têm programação regular gratuita e estão arcando com seus próprios custos. No lugar deles não teria nada se eles não estivessem lá, fora que estão contemplando outros artistas que também fazem parte dessa cena", escreveu Karen Cunha no seu post.
Resumo da ópera é que o trabalho para escolher o que você verá amanhã ao longo de 10 horas de festa foi extenuante, estressante, mas tá lindo demais! Então, se liga nas atrações, escolhe um look confortável e quentinho, porque na madrugada esfria mesmo, muito cuidado com seus pertences, beba muita água, coma alguma (ou pelo menos tente) e curta muito com os amigos!
Para quem quiser me dar um oi, estarei entre os palcos do Dia da Música Eletrônica de SP, no Largo Paissandu, e na homenagem à Sonia Abreu, rua Bráulio Gomes.
Das 20h até as 8h deste sábado, o Centrão é nosso e ninguém tasca!
Terremoto Sound System + Africa Mae Do Leao Sistema de Som + Zion Gate Sound System
RUA 24 DE MAIO, 62
Feminine Hi-Fi + PATA do LEÃO
RUA 24 DE MAIO, 247
BATEKOO SP + Baile em Chernobyl + Bandida Coletivo
RUA BARÃO DE ITAPETININGA, 298
Desculpa Qualquer Coisa + Festa MEL + Baile do Risca Fada
RUA 7 DE ABRIL, 386
Trava Bizness+ Festa Amem + House Of Zion Brasil + AZAGATCHA
RUA DOM JOSÉ DE BARROS, 40 – 55
Fiebre en la Selva + Boteco Pratododia + Baile dos Ratos
RUA BRÁULIO GOMES, 22 – 36
ᴘᴏʀᴏs + Carlos Capslock + CALDO
PRAÇA DAS ARTES
Vampire Haus + Techno de Rua + Jaca. + GHOST SP
PRAÇA RAMOS DE AZEVEDO, 131
Calefação Tropicaos E ONDAS TROPICAIS: HOMENAGEM À DJ SONIA ABREU
RUA BRÁULIO GOMES, 163
Helipa LGBT + Crash Party + Perifa no toque
RUA MARCONI, 82
MAMBA NEGRA + BLUM + MARSHA+ SINTETICA
RUA BARÃO DE ITAPETININGA, 78
Applebum Brasil X Dominação – A Batalha + SKRR SKRR+ GRAJAÚ – RAP CITY – SP x Arena do Flow
RUA CONS. CRISPINIANO X SETE DE ABRIL
DIA DA MÚSICA ELETRÔNICA
LARGO DO PAISSANDÚ
Veneno + Apartamento 21 + A Onda Errada + Roda de Sample
GALERIA OLIDO (AV. SÃO JOÃO, 473)
AUDIOVISUAIS
Coletivo Coletores apresenta Graffiti Digital Cidade Risco
Irmãs Lumièrra
Estúdio Laborg apresenta Orl_02
Imersão Urbana
ADESÕES
QUARTINHO Void
RUA DOM JOSÉ DE BARROS, 301
PALCO Mandíbula
PRAÇA DOM JOSÉ GASPAR
Sobre a autora
Claudia Assef é uma das mais respeitadas especialistas em música do país. É publisher do site “Music Non Stop” e ao lado de Monique Dardenne fundou o “Women's Music Event”, plataforma de conteúdo e eventos que visa aumentar o protagonismo da mulher na indústria da música.
Sobre o blog
Um espaço para falar sobre descobertas musicais, novidades, velharias revisitadas, tendências e o que está rolando na música urbana contemporânea, seja na noite ou nas plataformas de streaming mais próximas de você.