Que tal voltar no tempo e dançar ao som do primeiro DJ do Brasil em SP?
Claudia Assef
19/04/2019 18h42
Pra quem curte passar uma noite fritando na pista de dança ouvindo DJs tocando de house a techno, passando por trap, breaks e outros gêneros, talvez seja difícil imaginar como tudo isso começou aqui no Brasil, né?
O cara que iniciou essa brincadeira no país, seu Osvaldo Pereira, abriu os trabalhos na cabine de som tocando "música mecânica" (era assim que eles se referiam à discotecagem nos anos 50 e 60) em 1958, em bailes elegantes que ocupavam salões nobres em São Paulo.
Seu Osvaldo em foto de 1959, comandando um baile com seus dois ajudantes
Imagina só: naquela época, tocar essa tal "música mecânica" (ou seja, algo que não era tocado ao vivo) era coisa de outro planeta. Ou você ouvia música no rádio ou ao vivo, escutando um músico ou banda. Gramofone era para poucos. Soundsystem, então, coisa para gente rica. Imagina, então, o que era dançar num baile abastecido por um soundsystem "eletrônico" – o comum era ter uma enorme banda no palco. Coisa inédita no Brasil.
Mas seu Osvaldo era o cara certo, no lugar certo. Em 1954, aos 22 anos, após completar um curso de rádio e TV, Osvaldo Pereira conseguiu um emprego numa loja de equipamentos eletrônicos no centro de São Paulo. Ali, sua principal responsabilidade era montar "hi-fis", sistemas de som de alta fidelidade, para a clientela abastecida que frequentava a loja. Ele próprio construía as caixas de som para instalar nas casas dos bacanas e, com essa expertise, construiu um sistema de som para si. Também na loja, Osvaldo comprou (com bastante desconto) seu primeiro toca-discos, um aparelho suíço da marca Thorens, um avião na época. Ali mesmo ele também comprava os discos de vinil e, quando menos se deu conta, havia montando um soundsystem para si.
Em 1958, ele começou a fazer festas pequenas usando seu setup, avançadíssimo para a época. Eram casamentos, batizados e aniversários na Vila Guilherme, onde mora até hoje. Naquele mesmo ano, propôs para o dono de um elegante salão de festas em São Paulo que ele fizesse a domingueira, munido de seu "hi-fi" e dois assistentes. Ou seja, no lugar de ter que pagar cachê para uma porção de músicos, o próprio disc-jóquei ficaria responsável por trazer gente e, no fim da jornada, dividir os lucros com o salão de baile. Alguma dúvida de que daria certo?
Seu Osvaldo, entre os filhos Tadeu (esq.) e Dinho, dois dos muitos DJs da família
Seu Osvaldo ganhou fama fazendo bailes em São Paulo no final dos anos 50. Batizou a equipe de som de Orquestra Invisível Let's Dance e passou a ser copiado por outras equipes de baile. Sua história foi, para mim, a grande descoberta do meu livro Todo DJ Já Sambou, e até hoje me emociono quando encontro esse rapaz de 83 anos apaixonado por noite e por música.
Sua chance de vê-lo tocar está próxima, ele é atração principal da segunda edição do baile Os Veteranos, que acontece dia 27 de abril no Clube Piratininga, junto com outros mestres, como Tony Hits. O mais legal desse evento é que ele feito com a mesma pompa dos bailes dos anos 50 e 60, com reserva de mesas, garçons na estica, momento de lentas, dress code exigido, além de um repertório eclético, que passeia pelo samba-rock, grandes orquestras, soul e funk. Mais informações sobre ingressos aqui.
Seu Osvaldo (esq.) com o time de DJs da festa Os Veteranos
Enquanto a festa não chega, dá pra dar uma petiscada no universo do seu Osvaldo assistindo a esse mini-documentário, Maestro Invisível – A História do Primeiro DJ do Brasil (Alexandre de Melo).
Sobre a autora
Claudia Assef é uma das mais respeitadas especialistas em música do país. É publisher do site “Music Non Stop” e ao lado de Monique Dardenne fundou o “Women's Music Event”, plataforma de conteúdo e eventos que visa aumentar o protagonismo da mulher na indústria da música.
Sobre o blog
Um espaço para falar sobre descobertas musicais, novidades, velharias revisitadas, tendências e o que está rolando na música urbana contemporânea, seja na noite ou nas plataformas de streaming mais próximas de você.