5 coisas que aprendemos com o prêmio das mulheres da música, o WME Awards
Claudia Assef
11/12/2018 17h45
Na última terça (4) aconteceu o WME Awards, único prêmio dedicado às mulheres da música no Brasil. A premiação foi bem emocionante, e os motivos pra que ela acontecesse eu listei neste texto. Mas o mais legal foi reparar em coisas que aconteceram durante o evento e que nos mostram que o caminho de dar espaço às mulheres precisa ser amplificado cada vez mais, e que não tem mais volta.
Listo aqui 5 coisas legais que só poderiam ter rolado num prêmio de mulheres. Ei-las.
1) O lindo e emocionado discurso de Elza Soares
Figura homenageada da noite, dizendo que importante mesmo é ligar 180 e denunciar. Só uma mulher sabe o que é isso, e Elza, principalmente, pois durante muito tempo foi vítima de violência doméstica. O tema, aliás, pontuou a premiação, mostrando que entretenimento não precisa ter medo de abordar questões delicadas – ao contrário!
2) A celebração do feminino, muito além de gêneros
A questão não é discutir quem é trans, travesti, mulher cis, gays, héteros. O WME Awards mostrou que é lugar do feminino. A inclusão de artistas que se enquadram no universo das mulheres é uma poderosa vitrine para diminuir preconceitos, porque de tanto a gente falar e mostrar que ser trans, ser travesti, ser gay etc. pode ser menos comum na sociedade, mas É NORMAL, uma hora a ficha tem que cair! Na noite da premiação estavam todas juntas, na maior comunhão! Na foto abaixo as cantoras Urias, Linn da Quebrada e Karol Conka.
3) O prêmio de uma é o prêmio de todas!
A noite foi pontuada por discursos de agradecimento de vencedoras que buscaram incluir suas "concorrentes" e mostrar quando uma é reconhecida, todas são. Foi lindo ver quase todas as indicadas da categoria Empreendedora do Ano subir ao palco junto com vencedora, Fabiana Batistela, que fez questão de convidar as colegas para dividirem a vitória com ela. Na mesma linha foram as falas de agradecimento de Maria Beraldo (Melhor Instrumentista) e Roberta Martinelli (Melhor Radialista). Foi lido ver a sororidade sair do papel e ganhar o palco do WME.
4) Mulheres negras representadas em peso
A música nasceu em berço africano, então não enxergar o valor da mulher negra nessa esfera da música seria ainda mais grave do que em qualquer outro setor. E, na premiação, em todas as categorias, nos shows e como apresentadoras convidadas, as negras brilharam e foram maioria entre as vencedoras!
5) Publicidade pode ser incrível
Na foto abaixo estão nomes que pontuam a música brasileira em diversos gêneros: Drik Barbosa, uma das expoentes do novo hip hop nacional (da turma de Emicida), Karol Conka (acho que não precisa apresentar, mas já que estamos aqui é a mulher que vai do pop ao kuduro de uma forma divertida e abusada), Dudu Beat (baiana que é a nova queridinha da galera LGBT) e a hostess da noite, Preta Gil, a baiana que é madrinha ou afilhada de todo mundo da música brasileira. No WME elas se juntaram para cantar uma versão com uma mensagem afiada, feminista, mas transbordando esperança, numa versão de Andar com Fé, do pai da Preta, Gilberto Gil. O número foi pensado como uma ativação para a empresa patrocinadora do prêmio e ficou lindo (se quiser ver, clique aqui). Prova de que dá pra fazer publicidade sem enfiar slogans ou jingles goela abaixo de ninguém.
Sobre a autora
Claudia Assef é uma das mais respeitadas especialistas em música do país. É publisher do site “Music Non Stop” e ao lado de Monique Dardenne fundou o “Women's Music Event”, plataforma de conteúdo e eventos que visa aumentar o protagonismo da mulher na indústria da música.
Sobre o blog
Um espaço para falar sobre descobertas musicais, novidades, velharias revisitadas, tendências e o que está rolando na música urbana contemporânea, seja na noite ou nas plataformas de streaming mais próximas de você.