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Claudia Assef

Centro Cultural Olido vai abrigar Galeria do DJ e das Novas Mídias em SP

Claudia Assef

03/04/2019 15h40

  • Enquanto você lê este texto, todo um filme passa pela minha cabeça. O cenário é a São Paulo dos anos 80,  cidade cheia de vontade de ser uma megalópole com vida noturna pulsante. A personagem, uma menina de 13 anos que era louca por música eletrônica, mais especificamente acid house, e entrava num clube noturno pela primeira vez com a irmã mais velha. A danceteria Rose Bom Bom foi o set onde tudo aconteceu e, nos toca-discos, um DJ que marcaria a vida daquela menina para sempre, não só pelo som que ele tocava, mas pelo simples fato de ter sido gentil e escrito num guardanapo três das músicas que tinha tocado – e, de quebra, ter anotado também onde encontrar aqueles vinis, coisa que não era para mirins.

Se fosse um roteiro de ficção, o filme poderia se chamar Last Night a DJ Saved My Life. Mas essa ceninha, na qual o DJ protagonista da vida real era o lendário Magal, um ícone da noite de São Paulo até hoje, aconteceu de verdade comigo. Dessa noite em diante comecei a construir uma relação de amor com a discotecagem e a música eletrônica que dura até hoje.

Corta para a São Paulo de 2019, final de março. Uma cidade que não sonha mais em ser um centro de entretenimento noturno mundial, pois isso já é fato consumado há algum tempo. Vejo no meu celular uma chamada de um número fixo. "Claudia, um minutinho que o Secretário Alexandre quer falar". Era o atual Secretário da Cultura, Alexandre Youssef, recém nomeado por Bruno Covas, e que eu conheço desde os tempos da Coordenadoria da Juventude do governo Marta Suplicy.

Vitrine da Olido, vista do lado de fora, lá dentro DJs de diversos estilos irão animar as tardes de quem passa por ali

Foi assim, como um presente kármico do universo, que eu recebi o convite para ser a pessoa à frente da criação da Galeria do DJ, um espaço de exposições, workshops e atividades permanentes para celebrar esse personagem central de quase toda a música produzida atualmente. E a localização não poderia ser mais icônica; dentro do Centro Cultural Olido, espaço que será ocupado também por experimentos eletroacústicos, espetáculos que dialogam com tecnologia, encontros entre DJs e danças urbanas como house, passinho, Vogue etc. Há ainda a intenção de transformar a Galeria do DJ num centro de convergência de novas mídias, um local onde a população possa ter acesso a novidades do universo dos VJs, instalações audiovisuais e afins.

Uma das ações que queremos botar em prática em breve vai ocupar a famosa Vitrine da Dança, que irá assumir seu papel literal de vitrine, com DJs dos mais diversos estilos tocando ali nos finais de tarde. Como bem disse o Secretário, "o intuito da criação desse centro é dar a devida importância a toda uma cultura que se formou em torno do DJ e da música eletrônica (sem distinção de gênero), dignificando e reconhecendo sua importância dentro da economia criativa e estendendo à população a possibilidade de se apropriar de conhecimentos inerentes a esse universo".

CONTEXTO HISTÓRICO

Fechada da Galeria Olido, onde será inaugurada a Galeria do DJ

A Olido continuará existindo como um local histórico da cidade, e serão mantidas ali as atividades que mantêm regularidade e público cativo. O prédio fez parte do patrimônio do imigrante espanhol Domingos Fernando Alonso, que desembarcou no Brasil em 1906. O Cine Olido foi inaugurado em 1957, com a junção dos nomes do dono e de sua esposa, Olívia (Oli+Do).

A Galeria Olido voltou a ser um pólo de cultura após uma obra de revitalização em 2004. O projeto arquitetônico transformou os 9 mil metros quadrados que antes compreendiam três salas de cinema integrando-as ao prédio de 23 andares, que passou a abrigar espaços importantes para a cultura da cidade, como a Sala Olido, um espaço multiuso com quase 300 lugares, o Cine Olido, que segue firme exibindo filmes nacionais (e é gerido pela SP Cine), o Centro de Dança Umberto da Silva, a Sala Paissandu, conjunto com quatro salas de ensaio, a Vitrine da Dança, e o Centro de Memória do Circo, talvez o espaço mais icônico da Olido atualmente.

Anúncio da inauguração do Cine Olido, de dezembro de 1957

Com a chegada da Galeria do DJ a ideia é transformar a Olido num espaço de conhecimento e experiência pulsante, assim como acontece em prédios vizinhos, como a Galeria do Rock e o Sesc 24 de Maio. Faz todo o sentido situar a Olido como um centro onde jovens de 0 a 100 anos possam viver o amor por essa arte que transformou o mundo que conhecemos hoje. E, mais além, transformar esse amor em conhecimento, esse conhecimento em profissão, e a profissão em boletos pagos.

São Paulo se tornará assim a primeira cidade do mundo a ter um local público para edificar a cultural do DJ. E, enquanto o Momem (Museum of Modern Electronic Music) não abre as portas em Frankfurt, Alemanha, dá pra dizer que teremos o primeiro centro de cultural voltado para a música eletrônica do mundo.

Da minha parte, prometo por seu Osvaldo Pereira e Sonia Abreu, primeiro e primeira DJ do Brasil, que farei meu melhor para montar um local à altura da arte que eles iniciaram no Brasil. Que Larry Levan ilumine nossos caminhos.

Sobre a autora

Claudia Assef é uma das mais respeitadas especialistas em música do país. É publisher do site “Music Non Stop” e ao lado de Monique Dardenne fundou o “Women's Music Event”, plataforma de conteúdo e eventos que visa aumentar o protagonismo da mulher na indústria da música.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre descobertas musicais, novidades, velharias revisitadas, tendências e o que está rolando na música urbana contemporânea, seja na noite ou nas plataformas de streaming mais próximas de você.

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