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Claudia Assef

Música que vira imagem; duas obras audiovisuais imperdíveis em Paris

Claudia Assef

26/07/2018 20h23

Sábado passado toquei num aniversário maravilhoso em Saint Jean Cap Ferrat, uma cidadezinha cheia de charme e gente do jet set internacional próxima a Nice, sul da França. Depois do trabalho, já que estava por aqui, tirei uns dias pra visitar Paris, cidade que já foi minha casa/escritório no período em que fui correspondente da Folha de S. Paulo e pra onde eu adoro voltar sempre que posso.

Uma das obrigações para quem vem a Paris é ir atrás das exposições que estão rolando na cidade. Tem gente que usa guia, eu gosto mais de perguntar para amigos que são obcecados por Paris, caso da Lalai Persson, minha partner in crime que, além de ser uma viajante profissional, escreve seus relatos no ótimo Chicken or Pasta, site de turismo com uma pegada pessoal que precisa fazer parte do seus favoritos já – seu eu fosse você, assinaria também a newsletter deles.

Obediente que sou, lá fui eu ver a exposição Au-Delá des Limites, do coletivo japonês Team Lab, um grupo de profissionais dos mais diferentes backgrounds que têm como objetivo criar espaços imersivos e interativos que te levam pra dentro de um sonho.

O Tem Lab foi criado em 2001 no Japão como um grupo interdisciplinar de 'ultratecnologistas' (entre eles artistas visuais, engenheiros, matemáticos, músicos, programadores, designers) que buscam encontrar interseções entre arte, ciência, tecnologia, design e o mundo em que vivemos.

Usando como ferramenta a arte digital, o Team Lab cria espaços que transcendem qualquer barreira física da criação. Nesta exposição que está em cartaz no Parc La Villete até 9 de setembro (entradas por 14,90 euros na bilheteria ou 14 euros no site) a sensação é de que você está participando de uma cena do filme Avatar. Mas não é só isso. É também a de que se está submerso numa cachoeira digital em que é possível controlar o fluxo das águas com as mãos; vendo um desfile de enormes sapos e coelhos gigantes e, num dos trechos mais lindos da mostra, acompanhando uma pomba que, com seu voo matemático, cria um rastro de possibilidades emaranhadas num novelo digital que faz um paralelo com as nossas vidas.

Isso sem falar num dos espaços mais interessantes desta exposição, uma área com telas de acrílico que recebe projeções holográficas vindas do chão. Nas chapas de acrílico, as figuras que permeiam a exposição (sapos, coelhos, músicos japoneses) surgem individualizados, bem na sua frente, num jogo de luzes que lembra teatro de sombras.

Toda essa tecnologia fica mais ainda mais avassaladora com a trilha sonora que o Team Lab criou para a instalação. É uma das coisas mais bonitas que eu já vi. Mesmo quem não está nem aí pra fazer crítica de arte ou cara de conteúdo, ou seja, as crianças, amam! Aliás, elas piram! Veja aqui um tiquinho desse trabalho.

DÁ UMA OLHADA NESTE VÍDEO, VAI DAR VONTADE DE IR AGORA PRA PARIS

CARA A CARA COM FOGOS DE ARTIFÍCIO NA LOUIS VUITTON

Outra dica da Lalai foi a visita à Fondation Louis Vuitton, na Bois de Boulogne. Aberta em 2014, a fundação é um senhor museu que, mesmo que não tivesse nada de legal em seu interior, já valeria visitar só por sua arquitetura espetacular.

Mas a boa notícia é que, sim, tem muita coisa legal lá dentro. Atualmente está em cartaz a exposição Au Diapason du Monde, um recorte da coleção particular do museu que busca entender o lugar do ser humano no universo. O tema é tão amplo quanto os artistas que estão na mostra. Tem medalhões franceses como Yves Klein e Henri Matisse, até nomes mais pop, como os americanos Dan Flavin e Matthew Barney até o incrível japonês Takashi Murakami. Mas o que me pegou de jeito foi um filme de 14 minutos do francês radicado na Alemanha Cyprien Gaillard.

Ele retirou um loop de 9 segundos da música Black Man's World, do Alton Ellis, e transformou no ponto de partida para um vídeo que desatarrachou minha cabeça do lugar.

MÚSICA ORIGINAL BLACK MAN'S WORLD – ALTON ELLIS

Usando como trilha sonora um pequeno trecho da música que diz "I was born a looser", desconstruída em várias frequências,Gaillard criou uma narrativa em quatro cenários diferentes, começa com a imagem de uma réplica do Pensador, de Rodin, que fica em frente do Museu de Belas Artes de Cleveland (EUA), depois registra a dança de árvores cujos galhos mais parecem dreads (ou seriam camarões de maconha?) que rebolam no ritmo da música. Em seguida, ele registra com um drone e em plano sequência uma queima de fogos de artifício no Estádio Olímpico de Berlim. Por fim, o mesmo drone ilumina uma árvore que se transforma em teia de aranha num take tão simples que não é possível que ninguém tenha feito antes.

O filme é todo feito em 3D e, apesar de reunir uma sucessão de ideias simples, é de chorar de tão lindo. Descolei um vídeo gravado dentro da exposição, que infelizmente vem sem o impacto do 3D e com pouca qualidade, mas vale pra matar a curiosidade.

Nightlife Cyprien Gaillard from andrew green on Vimeo.

Então dá próxima vez que for a Paris, pergunte pra Lalai o que fazer 🙂

Sobre a autora

Claudia Assef é uma das mais respeitadas especialistas em música do país. É publisher do site “Music Non Stop” e ao lado de Monique Dardenne fundou o “Women's Music Event”, plataforma de conteúdo e eventos que visa aumentar o protagonismo da mulher na indústria da música.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre descobertas musicais, novidades, velharias revisitadas, tendências e o que está rolando na música urbana contemporânea, seja na noite ou nas plataformas de streaming mais próximas de você.

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